O BARREADO
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| O Barreado. Arquivo pessoal - 2025. |
Para quem ainda não conhece este deleitamento do litoral paranaense, o Barreado é um dos pratos mais emblemáticos e discutível da região, uma vez que sua real origem ainda gera controvérsias entre pesquisadores e moradores do litoral. Quando se refere a sua gênese, há quem defenda que o preparo à base de pedaços bovinos, toucinho/ bacon picado, temperos e bastante cominho seja originário de Guaraqueçaba; ou Paranaguá; ou Antonina, ou Morretes. Em contrapartida, sabe-se que este tipo de guisado de carne vem sendo praticado a mais de 200 anos no litoral paranaense, e que além das influências portuguesas da região de Açores no preparo, também há outros resquícios da Península Ibérica. De acordo com a doutora em história pela Universidade Federal do Paraná, Maria Henriqueta Sperandio Garcia Gimenes-Minasse (2013), o início e degustação do barreado na região remonta aos idos de 1700, momento que se deu a chegada dos jesuítas no litoral. Por outro lado, há indícios populares que a gênese do Barreado tem seu início com o tropeirismo, mas que a partir de uma análise da conjuntura alimentar tropeira que tinha como base carnes secas e resquícios de assados, esta hipótese não se sustenta.
No livro Cozinhando a tradição: festa, cultura e história no litoral paranaense, a autora Gimenes-Minasse (2013), traz todo o contexto por volta do preparo, inclusive a questão da cultura junto a mesa no qual o Barreado era parte complementar durante o Entrudo (o Entrudo era uma festividade europeia que precede o atual Carnaval, trazida ao Brasil Colônia por portugueses. Tal prática era muito criticada por religiosos e intelectuais da época devido sua incivilidade), festividade na qual as pessoas adicionavam todos os temperos de uma única vez e deixavam o Barreado cozinhar em fogo baixo nas panelas de barro da época, lacradas para não escapar o vapor com uma espécie de goma feita a partir de água, farinha de mandioca ou cinzas da própria lenha, massa que se solidifica durante a cocção e preserva a pressão interna. Além de alimentar várias pessoas e revigorar as energias pós período carnavalesco, o ato de comer Barreado é subentendido como uma coletividade. A forma original de cocção segue na imagem abaixo, durante oficina de barreado realizada durante o 8º Festival do Fandango Caiçara na Associação Mandicuera, Ilha dos Valadares em Paranaguá - Paraná.
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| Oficina de Barreado na associação Mandicuera - Arquivo pessoal - 2017. |
Devido às alterações no modo de preparo dos alimentos em decorrência da futurologia na qual as sociedades contemporâneas vivem, para que as pessoas tenham uma experiência equivalente a original, o Barreado na versão cozida em panela de pressão também tem sabor próximo ao genuíno preparado lentamente na panela de barro. Sem embargos, a versão moderna também precisa de boa quantidade de caldo, devido a possibilidade de ser feito o “pirão do mesmo” no prato.
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| Releitura contemporânea do Barreado - Arquivo pessoal, 2025. |
O Barreado pode ser acompanhado de saladas variadas, mandioca (cozida, frita ou chips), banana (in natura, frita ou chips). Ingredientes: 1 kg. Carne bovina (peito ou músculo de preferencia, alcatra ou patinho), cortada em cubos médios; 200 gr. bacon cortado em pequenos cubos; 2 cebolas médias picadas; 2 dentes de alho picados ou amassados; 2 folhas de louro; 1 tomate picado e sem sementes; 1⁄2 maço de salsinha picada; Quanto Baste (Q/B) de cominho em pó, podendo utilizar um pouco mais na finalização; sal e pimenta do reino a gosto; 1 1⁄2 litro de água; (Q/B) de farinha de mandioca.
Modo de preparo: Em uma panela de pressão doure o bacon, adicionando a cebola e o alho cuidando sempre para não queimar. Adicionar a carne, o restante do tempero e a água. Cozinhe na panela de pressão por aproximadamente 1h30, dependendo do corte da carne. Tire a pressão e acerte o tempero e a água, lembrando sempre que o caminho se destaca no sabor e na cor do Barreado. Cozinhe por mais meia-hora e confira se a carne já está desfiando.
Onde encontrar no litoral paranaense: Os tradicionais preparos da culinária Caiçara no Paraná são servidos em discretos estabelecimentos distribuídos pela costa e em incógnitos lares tradicionais que preservam a cultura alimentar local. Na questão do Barreado, o mesmo está associado ao patrimônio histórico cultural deste território que, nos municípios de Antonina e Morretes, se tornou um forte atrativo em restaurantes nos respectivos centros históricos.





